Posted by : Felippe Barbosa
domingo, 7 de julho de 2013
Certa
vez um homem sábio me disse que a vida é como uma colmeia sob os galhos de uma
macieira em pleno verão. Nunca compreendi tal comparação, mas ela não se faz
necessária nesta história. Escrevo aqui na intenção de compartilhar minha
extrema afeição por uma das personagens de Joanne Rowling. A intrínseca
senhorita Bones.
Em meio a um universo repleto de diversos
personagens, a escolha de tal garota parece nada mais do que inapropriada e
desprovida de sentido. Contudo, tenho guardados numa pasta de cor amarela
alguns arquivos que revelam minhas razões para idolatrar esta humilde criatura.
É fato quase inquestionável que a
jovem Susana trouxe aos fãs da saga a primeira impressão do que é ser
selecionado para uma das casas de Hogwarts. Mesmo que a desagradável Ana Abott
tenha sido a primeira aluna a ser chamada pela professora McGonagall, todos
sabem que, numa sequência de fatos, o segundo é quem carrega o árduo fardo de
não apenas enfrentar a tarefa, mas também de se igualar ao primeiro. E Susana
triunfalmente ingressa na Lufa-Lufa com ligeira ansiedade na página dos livros,
e um belo sorriso na tela dos filmes.
Não percebem? A real importância de
tal fato? É sabido que Lufa-lufas são a classe social subalterna da saga,
considerados desnecessários e muitas vezes mencionados em piadas maldosas que
envolvem excrementos de acromântulas. Mas a corajosa senhorita Bones bravamente
estampa tal título, abraçando a Lufa-Lufa como seu lar. Tal grupo de rejeitados
alunos tem sua importância estampada logo de cara nos pequeninos tímpanos ou
globos oculares de qualquer jovem criança que conheça a saga pela primeira vez.
O pomposo chapéu seletor cita a casa dos texugos antes que todas as
outras. É através da jovem de cabelos
ruivos que os amarelos de Hogwarts são fixados na mente do jovem Potterhead. As
palavras de Rowling dizem que “Susana saiu depressa e foi se sentar ao lado de
Ana”, mas deixam nas entrelinhas que aquele era um dos momentos mais simbólicos
de sua vida. A mensagem da garota é clara e direta ao público: “Vocês podem nos
ignorar, mas estamos aqui. E temos orgulho disso.”
Talvez seja esta uma das maiores
lições contidas em toda a saga. Ela não foi A Garota que Sobreviveu. Não foi a
aluna mais brilhante da classe. Não se destacou nos campos de quadribol. Susana
não alcançou a glória eterna. Mas em seus breves segundos de fama, apresentou
com orgulho a casa a qual pertencia, registrando-se para sempre na mente dos
fãs de Joanne.
Um centauro dinamarquês, ao ler os
parágrafos acima, há de achá-los mal contados e sem sentido. Não apenas pelo
fato de não falar fluentemente minha língua, mas também pelo fato de não compreender
um dos mais inquestionáveis dogmas que rege a ficção. A pomposa ideia de que
não existem protagonistas. Tal conceito é uma formosa ilusão criada pelos
autores, que sentem a necessidade de se apegar a um de seus personagens mais do
que aos outros. Mas independente de seus feitos, a importância atribuída a cada
um deles é exatamente a mesma.
Mesmo que grande parte da vida de
Susana não esteja inscrita nas palavras de Rowling, a nobre garota sabe que
exerceu seu papel com eficiência. Compreende enfim que possui sua função neste
mundo, e que não há diferença entre derrotar o Lorde das Trevas, ou derrotar os
obstáculos de uma vida cotidiana. Ambos querem te destruir. A diferença está
apenas na atenção que isso atrai a sua história. Assim como não há diferença
entre cativar uma pessoa ou cativar milhões. Elogios alheios nunca serão tão
importantes como elogios vindos de si próprio.
Ao caminhar pela estrada empoeirada
que leva a meu destino, carrego na mala um globo de vidro embalado com plástico
bolha. Nele, guardo a memória de Susana, que me incentiva a seguir em frente
todos os dias, me lembrando sempre de que minhas origens e as circunstâncias
não definem quem realmente sou. Basta que eu me lembre que não importa o que os
outros pensem, ou mesmo qual ídolo venerem. Na história contada em minha mente,
cabe a este jovem complexo fazer de mim mesmo meu próprio protagonista.