eram nove e meia quando olhei para
ela.
que era bela, qualquer um
poderia dizer.
mas o que me atraiu, na verdade,
não foi seu rosto, ou seu
corpo
mas o jeito que virava a página
como se o livro fosse um amigo
cachos ruivos e mãos delicadas.
de tão fascinado, fiquei
de castigo.
e todos os dias, lá repetia.
Ansiava a chegada
da ruiva
mas consumia cada reles sonho
meu
passaram-se meses, passaram-se anos.
esperar se tornou rotina.
tentei descobrir seu nome.
mas não sabia
rima com ruiva.
se a loba não vai, o lobo não
uiva.
mesmo por anos eu tendo esperado.
mas o destino intercedeu,
um dia Judite sentou-se ao meu
lado.
conversas, risadas, histórias e
beijos.
foi com Judite que me casei.
perversa, malvada, se afogue no
Tejo,
na imagem da ruiva eu rabisquei.
mas eis do tal momento, - que surpresa - no dia do casamento,
quando Judite subiu ao altar,
meus olhos fitaram a quarta
fileira.
sentada ali pra me ver casar,
a ruiva piscava de forma certeira.
e nem mesmo deveria.
sussurrei um singelo “obrigado”.
se não fosse a ruiva vadia
eu nunca teria me casado.